Os teus olhos disseram-me quem eras, o que estavas a sentir, e eu acreditei. Acreditei porque estiveste sempre tu lá, neles. Eras a pessoa que se escondia de mim, que sorria para disfarçar o desconforto e o receio de perder o que ainda nem tinha conquistado. Eras o meu mundo, eu sabia o que significavas para mim e como cada um dos meus desejos se conseguiria desvendar se ao menos estivesses por perto. Eu sabia que se soubesses esperar, eu chegaria, de mansinho, ao teu mundo.
Nos teus olhos tive sempre a sensação do amor intenso que tinhas por mim, não precisando de o dizer, porque de cada vez que sentias vontade de falar, de me falar de ti, os teus olhos quase se afogavam numa água límpida que ameaçava jorrar para fora, inundando-me de todo o turbilhão de que padecias. É dos teus olhos que sinto falta, porque eles nunca me mentiram. Eles olharam-me sempre, tão dentro de mim, que agora me falta tudo, estou vazia e já ninguém me olha mais assim. Agora que te foste e levaste contigo o que já me pertenceu, vou apagando, devagarinho, um dia de cada vez, o que já vivi e muito dificilmente conseguirei sentir de volta. As suas cores estão a desvanecer-se, o brilho apagou-se e a noite roubou todo o protagonismo aos muitos dias que já tivemos ambos.
Os teus olhos sabiam falar e disseram-me tudo o que me forço agora a esquecer, porque não soubeste esperar e porque eu teria realmente ficado!
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