31.1.22

Era uma vez uma mulher...



Era uma vez...

As histórias parecem já não começar assim, no entanto continuam a existir, a serem passadas, não tanto de boca e boca, mas mais de rede social em equipamento electrónico, difundindo rapidamente o que poucos parecem conseguir parar e que ao voltarem, mesmo que já em verdade, terão sofrido efeitos devastadores. As histórias já parecem não precisar de circular entre gerações, são mais efémeras, irrelevantes na maioria das vezes pela falta de conteúdo e aplicação. Mas, e porque ainda existem histórias que valem a pena ser conhecidas, aqui vai uma:

Era uma vez uma mulher sem idade, porque aparentava não ter nenhuma que se identificasse, mas cuja idade emocional superava os mais antigos e supostamente experientes. Vivia em nenhum lugar específico, talvez porque pouco se soubesse da sua forma de vida, mas acabava a viver em todos os lugares onde fazia falta. Sabia sempre o que dizer e quando, mas usava amiúdes vezes de silêncios desconcertantes e sábios. Ouvia com atenção todas as enormidades, catalogando-as de imediato. Falava com um timbre tranquilizador, mas não raras vezes alvoraçava os mais quietos, os que pareciam não saber do que sabiam e de todos quantos juravam saber de tudo. Era uma vez uma mulher com uma beleza inclassificável de tão bonita, mas que nunca se excedia na beleza que lhe era tão natural quanto ser. Todos a olhavam, mesmo que poucos a conseguissem ver por tempo que bastasse, porque parecia ser diferente a cada dia. Carregava alguns traços únicos que não se assemelhavam a nada anteriormente descrito, mas igualmente tão comuns e naturais, que ninguém junto dela, se lembrava de os salientar. Era uma vez uma mulher que continuava avidamente à procura de se melhorar, mas que nunca se alterava por ainda não o ter conseguido. Ia e vinha sem pressas, mas apressava-se para que ninguém tivesse que a esperar. Sorria a todos quantos com ela se cruzavam, mesmo que a maioria jurasse que não os via. Tinha uma gargalhada que fazia rir os mais sisudos e que sempre se seguiam às piadas que contava como ninguém. Era uma vez uma mulher com imensos nomes, alguns simples e repetíveis, mas com muitos outros que ninguém se atreveria a pronunciar, por isso era, grande parte do tempo, a mulher que a maioria jurava conhecer, talvez para terem algo que dizer.

As histórias existem para que permaneçam na mente de quem as conta e para que o coração de quem as ouve se encha do que os dias roubam, porque a serem verdade lhes iluminaria até a alma!

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