18.2.22

Deitada, no escuro...



Deitada, no escuro, a ouvir o meu coração que parece estar tranquilo porque as batidas são ritmadas, mas sentindo por dentro de mim um mar revolto enquanto nado de forma desesperada para evitar que as ondas me impeçam de respirar. Deitada sobre um corpo que me completa por ser a extensão de todas as emoções que armazenei e que me forçam a testar os limites que não sabia ter, inerte, mas com a mente a mil, gritando, sem qualquer som, que já me disse tudo e que nada mais me resta do que continuar. Deitada, com os braços abertos, os mesmos que antes receberam quem ainda não sabia o significado do amor, não como o entendo e que apenas se instala para restaurar o coração que por vezes me finta, cheio de vida própria, ao invés de o endurecer.

Deitada, ao teu lado, a ouvir o bater do coração que se mistura com o meu e que me assegura de que estás para ficar. Vieste ter comigo, sem mais nada para esconder e a esforçares-te para que acredite no que tens para me dizer, sossegando o meu mar e mantendo-me à tona. Deitada no teu corpo, aquele que rapidamente o meu reconheceu, a reacender as emoções que deixaram de me testar e que agora me permitem usufruir. Deitada do lado certo da cama na qual nos temos, segura de que já sabes o significado do amor, como o entendia antes, e que me acorda de todas as noites nas quais quase me senti endurecer e desistir. Deitada ao teu lado e já sem precisar de te pedir para que fiques.

Deitada, no escuro, a desejar, mais do que a tudo o resto na vida, que os nossos corações estivessem mesmo juntos. Deitada sem qualquer som que me lembre da razão pela qual me deixei ficar sozinha, enquanto jurava já não esperar por ti. Deitada, por mais uns minutos, para que me convença a levantar o corpo e a reerguer a alma que se perdeu de mim enquanto me focava em ti. Deitada, no escuro, enquanto me digo, talvez para me convencer, que sei o que o amor significa para mim e que por isso não abdico de o sentir.

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