Recebi-te, de braços abertos e de coração pronto, mas a vontade que aparentavas ter de mim não era comparável ao medo de te perderes no que poderia representar!
Somos todos diferentes e nem sempre procuramos pelo mesmo, porque somos feitos de muitos lugares, tempos e momentos que nos marcam como ferros. Somos o que decidimos, mas deixamos de o ser à velocidade do que acreditamos não querer ou ser capaz. Somos o topo do sonho de alguém e o ponto mais baixo da pessoa que a nossa reconhece e pela qual luta, tantas vezes em vão.
Li-te na diagonal, demasiado confiante e julgando estar preparada para as entrelinhas, mas a verdade é que tudo o que disseste foi claro e pleno de todas as vírgulas que mudavam o sentido. Falávamos línguas diferentes e usávamos de linguagens pouco claras e sem qualquer efeito prático. Magoávamo-nos nas imensas insistências, querendo quem na verdade não nos queria o bastante, ou não da forma que nos permitiria o repouso do guerreiro e travávamos lutas tão desleais que no final perdemos ambos.
Recebi-te quando já me sentia tão tranquila e despojada de todos os quês e porquês que antes me travavam, que acreditei ser o tempo e momento de recomeçar. Recebi-te e não duvidei, por nenhum segundo, que não me fosses receber de igual forma. Recebi-te porque me parecia caber a capacidade maior de abrir as portas aos amores falhados de ambos, mas assim que desviei o olhar das imensas janelas que mantiveste fechadas, fiquei como estava antes, sozinha e sem escolhas que me incluíssem.
Fomos a metade possível de um todo tão distinto e impreparado, que nada jamais nos poderia preparar para os danos colaterais de que ainda padeço e que seguramente te mantêm onde continuas, bem longe do meu mundo e a cada dia mais perto de seres esquecido.
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