Olá a ti,
Estou a responder à carta que não li e nem sequer me atrevo a abrir. Quero acreditar que ainda sei o que me perguntas, talvez porque o tenha feito demasiadas vezes sem qualquer resposta. Preciso de antecipar todas as palavras, escritas em cada linha, seguindo os pensamentos que nos cabiam a ambos. Desejo, mesmo, que me estejas a pedir o que me negaste e a tentar resgatar o que até já era teu. Mas ainda assim sei que não a consigo ler.
Já olhei para o remetente mil vezes. Já engelhei o papel, o mesmo que acabou molhado pelas lágrimas que caíram descontroladas, mas ainda não a abri. Já tentei sentir o teu cheiro, imaginando as vezes que te movimentaste na cadeira, desconfortável e inquieto e já resisti à tentação de "te" rasgar em mil pedaços, ainda assim e para memória futura, quero que saibas que sempre soube de cada razão e que te perdoei. Quero e preciso que entendas que sempre estive muito à frente no nosso caminho e que continuo a recusar atrasar-me. Quero que pares de te desgastar, porque deixou de importar, mesmo que me importe sempre contigo. Quero que finalmente me deixes ir, porque deixámos de ter forma de voltar.
Estou a recusar-me ler a carta que agora te respondo, muito provavelmente com as palavras que não quererias ler, mas apenas para te dizer adeus e a tudo o que poderias ter dito para atenuar a dor imensa que deixaste. Não vou ceder, porque se abrir esta porta, entrarás de rompante para me lembrar de tudo o que me esforço por esquecer.
De mim a quem perdeste,
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