Pior do que seres o meu ex, aquele que não ficou e a quem a vida levou de mim, é seres meu amigo, porque como amigo não te posso cobrar o que não tiveste vontade de fazer. Ao seres o amigo, as palavras, ou metade delas, terão que permanecer guardadas em mim por muito mais tempo, quem sabe para sempre. Se me escolheste para amiga e se te aceitei neste novo papel que ainda preciso de saber representar, os abraços poderão até voltar a acontecer, mas mais frios e condescendentes e não terei forma de os recusar.
Tanto que te queria como a pessoa que já foi e que deixou de ter um rosto no presente. Tanto que precisava de já não ter que precisar de ti, não nesta nova versão aparentemente moderna e na qual não gastamos tempo com as mágoas e os amargos de boca. Tanto que precisava de te poder abanar, cobrando-te o que nos impediste de ter. Tanto que sinto ainda, enquanto me forço a fingir que deixei de nos sentir e que estou resolvida e tranquila, serenando a mente que não cessa de me espicaçar e perguntar o que deixei de saber responder.
Pior do que simplesmente me forçar a esquecer-te, é lembrar-me, todos os dias, que continuas por aqui, querendo ser o amigo que protege, vigia e se certifica de que me mantenho de sorriso nos lábios. Pior do que te odiar, porque é o sentimento certo em oposição ao amor, é precisar de fingir que gosto o suficiente de ti para te considerar um amigo.
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