Ainda me lembro de quando éramos o melhor um do outro e um para o outro. Tudo o que fazíamos nos fazia achar que deveríamos estar juntos. Vias através de mim e eu sabia exatamente o que pensavas no momento em que parecias estar a tentar descobrir a origem do mundo. Ainda me lembro das inúmeras promessas, até das que se revelaram ser em vão, mas que nos conferiam o alento que apenas as grandes amizades conseguem. O teu coração estava tão bem encaixado no meu, que brilhávamos em conjunto, importando-nos muito pouco com o que os outros tentavam em vão esconder de nós. Ainda me lembro dos primeiros beijos, desembaraçados, mas sem muito cuidado ou jeito. Dávamo-nos instruções que nenhum seguia, mas foi quase de seguida que nos soubemos beijar com a entrega e o amor que chegou um pouco depois de chegarmos à vida um do outro, mas logo após o mais certo se ter instalado.
Tantas que foram as horas de passeios em que ouvíamos, de mãos dadas, as músicas que escolhíamos para nós mesmos, porque faziam sentido, mas que pareciam falar de tudo o que cada um estava a viver. Ir ao lugar onde esperavas por mim tornava os meus passos mais certos e a certeza de que continuaríamos a caminhar juntos, estando onde o outro se sentia em casa, sossegava dois corações agitados, porque é isso que faz o amor. Tantos silêncios cheios de palavras que ainda hoje me acompanham e tantas palavras que já não conseguiam replicar e que ouvíamos enquanto quietos, de olhares cruzados e a ver para lá da alma.
Ainda me lembro de me importar com o que te fazia feliz, alimentando-me de todos os sorrisos que deixavas escapar e ainda sonho com os sonhos nos quais te encontrava, sabendo que nos estávamos destinados, porque arranjávamos sempre forma de os recordar, regressando noite após noite. Ainda me lembro de seres a primeira pessoa de quem me lembrava mal abria os olhos e de nunca conseguir adormecer sem te arrumar, com cuidado e tranquilidade, no lugar de onde te voltaria a tirar para que nunca estivesse sem ti. Ainda me lembro do sabor deste grande amor, simplesmente porque nunca saiu de mim.
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