1.1.24

E se estivesses mesmo acordada?



Um dia acordas e percebes que não gostas da pessoa que te estás a tornar. De repente, como se nada pudesses fazer para o mudar, instalam-se medos que surgem quais monstros em pesadelos intermináveis e o teu poder para os afastar afasta-se, sorrateiramente. Quando percebes, porque te tornas mais frágil e sonora, passas a temer até a sombra, acreditando que se agigantará para te devorar.

Nada como a dor emocional que te infligem, uma e outra vez, para que te desvalorizes sozinha e te abandones no chão frio, pequena e incapaz de te lembrares do valor que sempre tiveste. Nada como os nadas de forma repetida para que acredites, mesmo que por alguns minutos, não seres o suficiente. Nada como as palavras sem sentido, contrariando os carinhos e afagos supostamente sentidos, para que passes a caminhar nua e sem alma. Nada como um desamor recente para que te esqueças do quanto já foste amada.

Um dia acordas, depois de muitos sonhos revoltos e noites mal dormidas, e percebes que percebeste tudo ao contrário, porque na verdade eras tu a ser em demasia, assustando quem apenas se alimentara, anos a fio, de pouco, muito pouco. Um dia acordas a conseguir sorrir, porque a verdade é que te mantiveste a mesma, mas a perceber que se não recebes o que é teu por direito, ganhas o direito de finalizar, definitivamente, todos os fins anunciados. 

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