Estou a ver-te agora tão próximo de mim, que consigo sentir-te respirar e ver as tuas veias no pescoço salientes. Estás tenso, queres-me tocar, precisas de perceber que sou mesmo eu, mas não te moves, estás gelado, estás com medo do medo que nos causa a ambos este reencontro.
Tanto que temos para falar sobre o que nos trouxe até aqui, porque não conseguíamos explicar o que sentíamos antes. Porque fugíramos do óbvio e o que queríamos afinal. Temos que encontrar uma forma, precisamos de nos acertar, de nos percebermos, ou simplesmente de nos deixarmos ir, porque assim assim não é possível continuar, assim amassa-nos por dentro, assim só vivemos pela metade à espera que se encaixe a outra.
Já te moveste, estou a sentir a tua mão a tocar os meus ombros. Fecho os olhos e deixo-te continuar, esperando que me consigas deixar da forma que tantas vezes sonhei. Regressaste a ti, percebeste que terias que fazer alguma coisa, que os silêncios de antes teriam que ser quebrados e por isso moves-te inquieto e ansioso. Os teus lábios estão trémulos, sinto-os na minha pele, sinto o calor que me passam e arrepio-me, afinal nunca saí de ti e nunca chegaste a estar longe, nem um segundo, já tinhas entrado antes para não voltar a sair mais.
Os teus olhos estão a sorrir. Ficaste subitamente tranquilo, o homem que sempre esteve para mim, com uma segurança que a minha insegurança quebrou. És tu, já te reconheci e estou a dizê-lo neste momento sem palavras, porque elas se recusam a sair, não me obedecem e gritam-me de dentro que me cale, que apenas escute e que te deixe começar o que afinal terminaste.
O abraço chegou e com ele tudo o que precisava de saber e sentir. Os teus abraços sempre tiveram o poder de me aninhar, criando o único refúgio que sabia aceitar e que me deixava a ser apenas eu, ainda mulher, mas com tudo o que não permito aos outros. O teu abraço abraçou a minha dor e apagou-a, já sei que és meu. Já o sei e ainda nenhum de nós falou, já não é preciso!
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