E quando chega o tão esperado telefonema, aquele que tem do outro lado a voz que tanta falta te fez, o que fazes?
Primeiro permites que a surpresa se instale e depois absorves cada som, ouvindo o que te diz quem já foi a pessoa mais importante da tua vida. Primeiro que tudo o resto sentes o coração bater como se fosse saltar para bem longe. Primeiro tentas colocar nos lábios o sorriso que passa o teu prazer. Primeiro pensas no que será diferente hoje, que dia especial estará a trazer de volta quem se ausentou por escolha. Primeiro respiras fundo, mas esqueces-te de deixar sair o ar...
- Olá pequenina.
Não me lembro de ter respondido. Não sei exactamente o que ouvi, mas lembro-me de me perguntar, sem palavras, porquê agora? Foram longos minutos que me pareceram horas, mas que não me revolviam as entranhas, nem permitiam que o prazer se voltasse a colar. Foram minutos a ouvir quem escolhera o silêncio, para me castigar; para mostrar a importância de que era feito; para estar em controlo.
- Não dizes nada? Gosto tanto do timbre da tua voz.
Continuo sem me lembrar do teor da conversa, certamente que foi envolta em muitas desculpas, mas de repente, do nada, lembro-me de me sentir rir, soltando gargalhadas, mesmo que sem som. De repente já não era prisioneira de nenhum amor unilateral. De repente tinha a minha vida de volta.
Não me lembro de que forma nos despedimos e o que terei dito exactamente para que o silêncio que tanto fizera questão de usar, agora se transformasse em suplicas. Não me lembro sequer se fui dura ou generosa na minha recusa. Não me lembro do que foi que tanto quis em alguém que nunca me soube querer, mas o que quer que tenha sido, deixou de me importar.
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