Porque disseste que me amavas?



Disse que ta amava, mas menti. Passei-te as emoções que esperava receber dum outro, mas para mim nunca chegaram as que me faziam falta. Disse que te amava, mas estava errada, porque o amor não sabe ao sabor que se colou na boca, amargo, demasiado forte para me suavizar e tão vazio quanto ficavam os finais de cada noite. Disse que eras tu e apenas eu sei o quanto desejei  que fosse verdade. Disse que sem ti nada poderia ser igual, ou bom, mas menti...

Os começos têm contornos que os recomeços não entendem e por vezes escolhemos não nos afastar do que até nos deixaria sarados, por sermos demasiado fracos para agarrar a força que acabaria por se fixar, impedindo-nos de sermos levados pela corrente. Ter quem nos tem, sendo quem podemos e temos connosco, deveria bastar, mas bastará que a pessoa errada chegue para que nada mais pareça poder ser feito e não fazemos nada para o mudar.

Disse que te amava enquanto me amavas com a intensidade que tantas vezes sonhei num outro corpo, em todos os cheiros que parecem não ter como me abandonar e em cada beijo que devolvi, cerrando os olhos para que nenhuma luz me mostrasse a dura realidade. Disse que te amava quando já julgava ter a maturidade dos que caminham em linha reta, mas que também se desviam e reavaliam sempre que a estrada não os leve a lugar algum. Disse que te amava porque me soava bem, à esperança que em tempos perdi e ao desejo de voltar a ter desejo genuíno de alguém. Disse que te amava por cobardia e foi assim que me igualei a quem uma vez me mentiu, abandonou e transformou neste ser que já não reconheço.


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