Uma coisa é escrevermos sobre nós, quando temos a pretensão de nos considerarmos escritores e outra, definitivamente oposta, é escrevermos sobre dores e traumas alheios, porque temos que ser capazes de sentir, bem dentro do que nos representa, o que representaria ser verdadeiramente magoado, usado, ou tão simplesmente ignorado.
Para alguns poderá parecer que apenas nos sentamos e debitamos umas quantas palavras, mas tudo o que se escreve vai muito para além do que se possa ler. É solitário o bastante para que nunca se saiba se chegará a alguém, mas tão libertador que fazê-lo fará correr tudo o resto. Quem sabe o poder que os sons carregam, nunca se subtrai a aprendizagem que envolve saber mais um pouco, mesmo que sobre outros, ouvindo e lendo mais ainda, e para que nos serviam de bitola para o que dizemos querer ser, ou para o que NUNCA seríamos.
Uma coisa é escrevermos sobre o amor, e outra diametralmente oposta, é fazê-lo sobre o desamor, a falta dele, ou o que nunca existiu na proporção do que sempre se deu. Quem não ama, não foi amado, ou simplesmente nunca se cruzou com quem lhe moveria os dias, dificilmente quer ler, ou ouvir falar de amores que funcionam tão bem que até a dor chega ao contrário (puro malabarismo literário). Mas existe sempre a possibilidade de usarem as palavras cheias de amores que resultam, para que desatem a querer igual, ou a não perder a esperança de que virá. Uma coisa é escrevermos sobre o que é bom e nos faz bem a todos, num consenso natural, outra é tentarmos que se veja para além do agora, ou que preste mais atenção ao que foi antes e não funcionou. Uma coisa é acharmos que o amor não nos faz falta e outra é reavivarmos o seu poder, deixando-nos ainda mais poderosos, porque a felicidade injeta-nos os poderes que mais nada consegue.
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