Os sinais ensombram-me, os que vi e foram acompanhados de palavras de aviso. O que me ensombra agora é tudo o que já não poderei mudar, quando mudar-me teria sido tão fácil. O que me vai certamente ensombrar daqui para a frente, será o que escolhi fazer quando não me cabia apenas a mim.
Fechar os olhos e perceber que não vou poder limpar tudo o que deixei sujar, já não me magoa, porque aprendi a perdoar-me, mas ainda vai continuar a castigar-me. Algumas das horas dos meus dias, já não muitas, ainda são dedicadas a sentir pena de mim, mas apenas o faço como se duma terapia se tratasse, para que possa eventualmente parar de me olhar de fora para dentro. Acordar de forma tranquila, a perceber que apenas controlo o meu lado da vida, e que mesmo esse também vai escapando ao que achava estar garantido. Acordar sem dores emocionais, com o corpo que me carrega, pronto e capaz de me levar até onde sei que ainda chegarei, permite-me sorrir e até rir do que me assustou lá atrás. Acordar hoje, já não é igual ao acordar de ontem, aquele em que mesmo com sol aberto apenas consegui ver as nuvens que se avolumavam.
Carrego as minhas baterias no que escrevo, porque percebi que não o faço apenas para mim, nem sequer por mim. Carrego as baterias porque passo para os que não conseguem pôr por palavras as emoções que terão que ler para que percebam o que estão a sentir.
Ainda tenho coisas que me ensombram, afinal também sou humana, mas já ultrapassei a barreira da auto-comiseração e sentir pena de mim nunca me irá ensombrar demasiado, porque sei o que sou e o que valho. Já deixei de precisar que me fosse dito, afinal de contas se eu não me conhecer...
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