Quando comecei esta aventura de escrita quase automática, não sabia bem o que poderia acontecer e de que forma teria forma de me passar aos outros, Quando teclei pela primeira vez, ainda não acreditava nos milhões de palavras que se seguiriam e o quanto ficaria permanentemente ligada a esta parte de mim. Quando comecei não sabia, com toda a certeza, que ninguém me conhecia, nem me sabia "ler". Fui caminhando, com passos nem sempre seguros, mas entendendo que pelo menos por aqui iria largar pedaços que cada um juntaria à sua forma, aproveitando os que lhe servissem. Quando comecei não tinha olhos que me conseguissem ver, nem mãos que tocassem como precisava de ser tocada. Quando comecei era assim e ainda continua.
Crescer, emocionalmente, trás alguns revezes. Saber o que sabemos, de nós, condiciona os que querem entrar na nossa vida. Nada será sempre positivo, algumas acções provocarão reacções que não controlamos e a isso chama-se viver. Ao ler-me, e de cada vez que o faço, vou percebendo todas as mudanças que me imprimi, forçando-me a aceitar que muito provavelmente nunca conseguirei ser vista.
Este meu cantinho de escrita, que é imediato e que tanto impacto parece causar, tem-me ajudado a continuar com o que sei fazer, mas certamente que consegui aprender que não me posso expor, em nenhum lugar e com ninguém. Aprendi que devemos ser mais dissimulados, escondendo quem somos, para que nunca saibam tanto como nós e para que apenas levem o que conseguirem carregar. Aprendi que a minha intensidade não serve a ninguém e que vou continuar à espera de quem saiba como acordo, como sorrio e rio. Vou continuar a desejar que me saibam segurar a mão percebendo se apenas preciso de um afago ou de protecção. Vou certamente querer que tantas palavras me levem até quem não tenha medo de amar, amando-me como sou.
Não sei se é uma benesse ou um fardo não ter ainda visto quem me veja. Não sei o que fazer com quem não sabe o que fazer comigo, mas sei que nunca poderei desistir do que sou, porque os meus pedaços, sou eu que os reúno e junto de cada vez que se partem. Não sei como terminarei os meus dias. Não sei se me terei apenas a mim e às palavras. Mas sei que a forma como amo determina tudo o que sou capaz de sonhar e por isso vou continuar a sonhar com as palavras certas e vou permanecer determinada e teimosa à espera de quem as saiba usar para mim e comigo.
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