Olá meu amor,
Há muito que ainda pareço precisar de te explicar e é por isso que te escrevo hoje, como fiz tantas vezes, mas com palavras tão diferentes que parecemos ter vivido duas vidas em simultâneo. Algumas despedidas são muito mais do que um adeus, são o apagar de memórias, lugares e sonhos que decidimos sonhar a dois. Algumas despedidas magoam-nos mais do que as palavras mais duras e certeiras, mas são tão necessárias quanto é o respirar. O que não nos permite continuar e o que parece ser sempre demasiado esforçado e difícil não sobrevive muito tempo. O que sentimos e não é correspondido mata todas as células, impedindo-as de regenerar.
Não tenho forma de afastar a sensação de impotência que se alojou em tudo o que te dei e fiz, porque simplesmente não bastou. Não consigo perceber como podes ter-te afastado, voluntariamente, do corpo que se encaixava no teu e que dobrou e multiplicou o teu prazer e o nosso. Não aceito que tenhas deixado de me ver, largando a mão que já apertaste tão forte. Não te reconheço na despedida determinada, quando determinado parecia o tamanho do teu amor por mim. Não sei quem és agora, se é que o soube alguma vez.
Quando é que sabemos e sentimos que é para sempre? Do que precisamos para aceitar que já não há passado que nos encaminhe para o futuro?
Nunca estaremos prontos até o estarmos realmente e vai ser sempre difícil, não importa a determinação. Alguém vai ter que fazer a escolha que não parece servir a nenhum, mas esse alguém terá que saber quais são as partes do nada que se instalou que compensam o tudo que já se viveu. Nunca deveríamos ter que dizer adeus a quem amamos, mas amar sozinho é uma dor bem maior do que o vazio que instalará depois.
Bastou um adeus, o que quase arrancou metade de mim, para que pudesse voltar a ter controlo da única vida que parece ter sido sempre a minha, aquela de que nunca fizeste parte. Por isso te digo
o último adeus meu amor, não tinha como continuar a lutar por dois.
Da mulher que já te pertenceu,
Lou
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