Sei que de cada vez que me lembrar de ti e do que já representavas, parte de mim acabará por me amaldiçoar. Talvez devesse ter esperado, incluindo-te. Talvez pudesse ter adiado um pouco mais o que sou e o que ainda espero de mim. Talvez eu não seja assim tão importante e o meu nome diga muito pouco do que pareço reconhecer. Sei que agora, muito mais do que antes, não sentir o peso que o teu corpo parecia ter tão certo e perfeito, me esvazia até sobrar muito pouco.
Quero lembrar todas as vezes que me tomaste, sôfrego e apaixonado, olhando-me nos olhos e mostrando-me o quanto me querias já. Quero, mesmo que continue a doer, sentir as mãos que prendiam as minhas enquanto o meu respirar se misturava no teu e me apetecia gritar de tanto prazer. Quero poder reter o teu cheiro, porque ele fazia com que tudo fosse tão fácil, era o que se misturava no meu e nos levava a lugares que não existem por aqui. Quero, queria, começar outra noite, mais uma, contigo por perto, a sorrir-me para me dizeres que estavas pronto para me amar.
Já fui tua, sem reservas e sem olhar demasiado para o futuro. Já fui a mulher que esperavas, mas desapontei-te. Já fui bem mais do que sou hoje, porque parece ter restado tão pouco.
É aqui, dentro das paredes que nem parecem ter cor, sozinha, numa penumbra que me mostra sombras que não quero reconhecer, que estou, não estando e esperando que a espera termine rapidamente, antes que enlouqueça. É aqui, sozinha, no final do que nem parece ter sido um dia, que olho para o telemóvel que se vai molhando, enquanto as minhas lágrimas caem e as mãos perdem a força que já tive. É aqui que percebo que sei muito pouco e que no final poderei já não ter nada que importe para saber...
Já fui a tua mulher, disso ainda me lembro!
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