De onde tiraste a ideia de que me poderias simplesmente deixar ir? Quem te mandou olhar para o lado contrário, durante o tempo que me fez sair de ti? Onde julgaste tu que me encontrarias quando te decidisses, finalmente, a perceber que era eu? O nosso destino não se compadece com as distracções, se não estivemos atentos, teremos que ficar na fila, e aguardar, muitas vezes, por uma próxima vida.
Quem te mandou tomares-me por garantida achando que apenas tu olharias para mim e por mim
Não me cabia lembrar-te ou acordar-te para mim. Não me cabia fazer-te entender que ou me tinhas, realmente, ou acabarias a perder-me para sempre. Não era de mim que teria que chegar o que te faltava. porque eu era tão simplesmente a mulher que escolhera amar-te, esperando, pacientemente, que também o fosses.
Não te consegui ler. Não cheguei a saber que dores carregavas para teres essa vontade de continuar a voar, sozinho, sem um lugar a que possas chamar de teu e sem quem esteja onde só poderias estar. Acredito, agora, que jamais saberás o que significa gostar genuinamente de alguém, sentindo-a, tanto na pele, que não a ter será rasgar-se ao mínimo movimento.
Não te soube roubar de ti. Não consegui que desviasses o olhar do que tanto te assusta e fui-me também eu. Desisti das dores que me irias infligir e voei até quem acabou a receber-me, e foi nele que me aninhei, sentindo um corpo que o meu estranhou, mas permitiu entranhar de forma gradual, sossegando-me de cada vez que me arrepiei, pelo cheiro novo e diferente, mas real.
Não te soube ensinar o que recusaste aprender, talvez porque o meu amor não tivesse bastado, mas sei que um dia também te perguntarás porque me deixaste ir.
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