Eu senti como seria o som da tua voz muito antes de me falares, quando apenas me sopravas palavras que nunca foram quietas e sempre que largavas perguntas às quais eu fui respondendo destemida, até te ouvir. A minha voz vicia, já o disseste. A forma como as minhas palavras se encaixam no timbre que só poderia ser o meu, permite que me vás ouvindo, uma e outra vez, até que nos esgotemos e deixemos de ter assunto. Os papeis ainda não estão definidos. Cada um de nós exprime-se como sabe e deixa correr a conversa. Deixamo-nos sempre embalar no assunto que o outro oferece, rindo, vibrando ou apenas imaginando como será realmente quem está do outro lado. O que sentiríamos se fossemos nós, ali, no momento que retratamos.
São tantas as vozes que nos perseguem todos os dias. São tantos os corpos que as guardam e que por nós esperam, qual aranha numa teia bem construída, que nos prende e amarra a uma escolha que não foi a nossa. São tantas as exigências para que tenhamos sempre o que dizer e da forma certa, que por vezes acabamos a não dizer coisa alguma.
A tua voz chegou para me tranquilizar, mas também para me agitar e para me devolver o que consigo dar. Acabei a reconhecê-la porque és tu em cada timbre e em cada pensamento que partilhas comigo. É através dela que agora sei de que forma poderás ser ou não parte de mim. Como é que o explico? Não sei, sinto-o e basta-me, por agora!
Sem comentários:
Enviar um comentário