Muita coisa mudou, mas deixámos de ter cadeiras vazias em torno de mesas que já não usávamos. Muita coisa mudou, mas ficámos mais nós, no nosso lugar de eleição a ter que ver, tocar e sentir o que nos envolve. Muita coisa mudou e mudará daqui para a frente, talvez até voltemos às cadeiras vazias, comendo rapidamente e deitando tudo para trás das costas, esperando que por não lhes pousarmos o olhar, as deixaremos eventualmente de ver.
O que foi que aprendemos entretanto?
Nada será alguma vez estático, mesmo que não nos recordemos de medidas tão drásticas, com arrancar de pensos rápidos de forma tão violenta, mas nada deverá ser igual, nem previsível, nem feito de lugares vazios quando poderíamos estar todos sentados, ao redor do que se chama vida, a que escolhemos. Nada poderá apenas passar pela correria diária onde fingimos não ver o óbvio e adiamos o que nos devolveria o centro.
Muita coisa mudou para a grande maioria de nós. Para uns quantos mudou a forma como viam o medo diário e tinham onde se esconder. Para outros e quero acreditar que para muitos, mudaram os afectos, o cuidado, o tempo e o amor, porque se ele existe e persiste, terá que ser alimentado e vigiado, mantendo-nos à temperatura que levará a tudo o resto. Muita coisa mudou e por isso teremos que mudar nós também.
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