O despertador rouba-me os últimos minutos de ti. Acordo devagar e movo-me sem muita convicção. Estou deitada e olho o tecto na esperança de me levantar, quem sabe, contigo ao meu lado. O dia continua cinzento e não ajuda nada a que me encha de cores para melhor sobreviver à tua falta. Lá fora está apenas a chuva e a rotina que já não passa por te ter. Vou fazendo tudo de forma mecânica e até o duche quente falha aquecer-me por dentro. O chá ainda me espera enquanto arrefece, arrefecendo-me o ânimo. O cão olha-me de orelhas caídas porque me sente e sabe do que estou a saber agora; estou inevitavelmente sem ti e sem vontade de muito mais do que faço.
O despertador já me lançou de novo para a realidade que gostava de afastar. Não o culpo, mas mantemos uma relação difícil, precisava de poder estar mais uns momentos no único lugar onde te tenho e conduzo o nosso destino. Já não olho para o telemóvel na esperança duma mensagem, há muito que os teus silêncios se instalaram. Sou a mesma aos olhos dos que não me conseguem ver, mas por dentro o vazio alastra e ameaça consumir-me. Quem é que disse que o amor não dói? Quem é que ainda consegue repetir que o tempo cura tudo? Quem é que tem exactamente o amor pelo qual esperou?
O despertador presenteou-me com uma música suave, mas não suavizou nada e apenas me "gritou" que estou de volta, mais um dia, ao que sou enquanto deixaste de o ser comigo. Posso escolher sorrir enquanto coloco a roupa que me fará ser apetecível, mas deixei de ter vontade de outra pessoa. Posso dizer, repetidamente, que amanhã já estarei mais perto de aceitar que não voltarás, mas quando o despertador dá o sinal de prosseguir, prossigo sem saber onde estarei quando finalmente deixar de te incluir, nem que seja em sonhos.
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