2.2.21

Ainda consigo escrever sobre o amor!



Como é que ainda consigo escrever sobre o amor?

A verdade é que também me alimento dos amores dos outros, dos que são bem-sucedidos, dos que magoam mais do que curam e dos que se usam, pisam e nos envergonham a todos. Mas cada amor tem um universo que me basta e que ponho em palavras para que vá direitinho a muitos outros.

Já não sinto vontade de me lembrar dos tempos em que o meu tempo apenas corria, porque existia alguém do outro lado da minha vida. Já não acordo à espera de que surja, do nada, ou de um momento que me poderia saber a certo, a pessoa por quem e de quem teria, outra vez, muito sobre o que escrever. Já não anseio por viver aos sopetões, de coração "acordado" e a irrigar muito mais sangue do que necessito. Já não me revejo num amor que me levante ambos os pés do chão e que me traga uma vontade infindável de pertencer a quem me pertença. Já não me sinto capaz de deixar de ser para que outro tenha um lugar e para que nos sintamos ambos capazes de abraçar o mundo.

Então porque razão ainda escrevo sobre o amor se pareço ter desistido dele?

Não sou das que abandona projectos viáveis, mas sou seguramente e cada dia mais, a que sabe que o mundo apenas gira se girarmos todos em torno do único sentimento que ainda nos mantém por aqui e por isso cá estou, determinada a construir outros amores, mesmo que não sejam para mim.

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