21.3.21

E se morrer com a falta de ti?



É verdade que já quase que morri de saudade de ti. É verdade que agora, depois de já ser esta mulher que ajudaste a formar, passei a entender tanto, tão mais do que antes, quando apenas me ocupava a julgar o que não parecias capaz de me dar, quando na verdade é que me deste muito. É verdade que estou muito mais só e solitária desde que a tua voz se esfumou e passaste a ser apenas a presença que por vezes sinto nos sonhos, mas que nunca mais passará de lá para cá. É verdade que tomei por garantidas as horas que pareciam muitas, enquanto me debatia com a minha incapacidade de as multiplicar para te incluir. É verdade que deveria ter usado do que chamava de inteligência emocional para inteligentemente te dizer o que subtraí e como eu gostava de o poder mudar. É verdade que foste o primeiro homem que amei e não o sabia.

Perdemos tanto tempo à procura do tempo que os nossos precisam, para acabarmos a dar-lhes apenas uma ínfima parte do que nos reclama o coração. Sofremos com o que dizemos ser o certo, mas certamente que apenas quando nos colocamos nos "sapatos" de quem nos carregou, nos tornamos grandes o bastante para os amar como são, com todas as falhas, dúvidas, medos e incapacidades. Lamentamos os abraços que nos faltaram, mas quando os podemos dar, sem reservas nem cobranças, gastamos o melhor de todos a diminuir o que deveria ser sempre grande. Adiamos as conversas longas e bebemos muito pouco do que depois nos cruzará a mente esgotada perante tanta culpa. Julgamos mais do que elogiamos e de repente, num dia que até pode ter sido de sol, nada do que importava antes o volta a ser.

É verdade que continuo a lembrar-me de ti, quando tenho o que me preocupa, ou quando sou abençoada com o amor que gostarias que tivesse tido, antes, muito antes da tua partida. É verdade que nos dias bons , enquanto caminho mais serena, de sorriso em riste, mas igualmente tão sozinha que me apetecia correr para os teus braços e esconder-me até que o mundo me pudesse voltar a receber. É verdade que não voltarás a ter dias especiais, mas passaste a ocupar todos os que certamente me restarão, de mansinho em alguns e cheios de saudade em muitos ouros. É verdade, nunca mais te voltarei a ter...

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