O poder que a música tem em mim ainda está para lá da minha compreensão, mas a verdade é que sem ela seria apenas uma pequena amostra do que sou realmente. Tenho uma música para cada estado de alma e uma que me acompanha em cada humor, na dor, nos fracassos e avanços que apenas eu pareço ser capaz de ver, mas que ainda assim me sabem a TUDO. Tenho a música na alma e ela avança corpo adentro abanando cada estrutura, da frágil à bem construída. Tenho a música nos pés e ela acaba sempre por subir até me invadir e nunca mais encontrar forma de sair. Tenho a música até nos momentos onde pareço não a conseguir ouvir, quando fica bem para lá do tempo como o conheço, mas que não avança nem recua, apenas permanece para que tenha as melodias certas.
A música já me salvou dos outros e até de mim, permitindo-me chorar até que me lavasse por dentro e rir bem alto, comigo e dos que acreditam saber quem sou. Gosto dos sons que me arrepiam pedaços de pele que nem me lembro de sentir e é tanto o que sinto quando a música certa toca, que o mundo se transforma e volta a parecer o lugar certo para estar e de onde partir.
Tanto que passei a amar, a saber escutar e a ver com atenção apenas por ter os sons das músicas que se encaixam onde mais nada parece poder. Tanto que resolvo e trato quando estou sarada, em paz comigo e a ouvir o que parece ter sido escrito por mim ou para mim. Tanto que finjo ser e fazer enquanto sorrio para as músicas que me fazem renascer de mortes acidentais e felizmente temporárias. Tanto que sou e ainda quero ser enquanto oiço, uma e outra vez, com o som no máximo a música da minha vida, pelo menos por um momento.
O poder que a música tem e que me faz amar-me em primeiro lugar, amando a pessoa que a minha reconhecer, é declaradamente maior do que tudo o que conheço e por isso recebo-a para que me reconstrua quando me quebrar e me impeça de partir. A música é o que me resta quando mais nada restar!
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