Decidi que não quero passar pela tua perda. Não me sinto capaz de parar de sentir o teu cheiro, de já não ter os teus olhos pousados em mim e de nunca mais ouvir o som da tua voz. Foi com ela que me conquistaste, o teu timbre fez mover tudo o que tinha dentro e teve o poder de me arrancar um arrepio bom. Não quero passar pela tua perda, recuso-me a ter que cuidar de tudo o que é suposto quando a viagem termina. Não conheço assim tao bem as minhas forças, não dessa forma, por isso não me apetece testá-las.
Decidi que os finais não compensam a viagem, talvez porque esteja apenas a ser paranoica ou cobarde, mas a realidade atinge-me sempre que tenho que viver perdas alheias e ultimamente são muitas. Estou seguramente mais frágil, sei-o porque fujo qual condenada de filmes que me façam romper o saco lacrimal. É oficial, os pés já estão na entrada da idade perigosa, aquela onde se empola tudo, receia os sonhos que roçam os pesadelos e se esbarra na dificuldade de relativizar.
Decidi que não quero ser a que fica para trás e tem que confortar os que acreditam estar a sofrer ainda mais. Decidi que perder-te não compensa ter-te tido, por isso escolho ficar apenas eu, sem as cortinas que declaram o final e sem as eternas frases motivadoras, mas apenas para quem as usa. Decidi hoje, de forma mais determinada ainda, que se é para te chorar e depois ter que arrancar à força para poder continuar, então não te quero ter.
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