A tua voz era a mesma, suave e conciliadora, talvez por isso a tenha reconhecido de imediato. O teu sorriso assegurou-me de que não eras uma visão e que vieras para me levar de volta a casa. O teu calor encheu-me a alma que gelara com a tua partida e foi sem questionar que te segui, determinado e finalmente feliz.
Ainda me lembro do dia em que me apaixonei, irremediavelmente, pela mulher que me acompanhou em tantos invernos e com quem tive o melhor de todos os verões. Fui um ser afortunado até ao dia em que me roubaram o chão e percebi que as restantes estações de todos os anos que me restavam, teriam que ser percorridas sozinho. Ficaram gravadas na pele e nas entranhas, todas as lágrimas que derramei com a tua perda, bem como a dor que me invadiu por não saber se te amara como merecias. A tua voz, a que ouvi tantas vezes nos sonhos, chamava-me agora para a única realidade que desejava viver.
O corpo já ameaçava desapegar-se há algum tempo e os pensamentos, esses, apenas se fixavam nos momentos em que te tive, tudo o resto deixou de me importar e até a minha aparente importância se desvaneceu no dia imediatamente a seguir à tua viagem sem regresso. Mas aqui estás hoje, de mão estendida e ainda mais bonita, se é que tal é possível, e eu, obediente e sequioso de ti, sorrio-te de volta, assegurando-te de que estou pronto.
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