Já deixei de permitir que os dias apenas passem por mim e é por isso que vou usando as minhas passadas, sabendo que me levarão ao meu lugar. Há muito que desisti de me querer assemelhar aos outros, até porque não os entendo nem descodifico, ao invés escolho saber o que sou e o que é suposto fazer por aqui. Há um par de anos que já olho para todos os momentos de forma mais atenta, responsabilizando-me por cada escolha e até pela falta de alguma. Agora já não me seguro de cada vez que me tentam abanar, e mostro, de forma convicta, que terá que ser da minha forma, mesmo que escolha adaptar o formato.
Ontem foi o dia do beijo e não pude deixar de me questionar sobre o que seria e teria, a mais, se me soubesse beijada e não somente num dia. Não sou apenas uma loba solitária, também aspiro a toques sentidos e verdadeiros, daqueles que me arrepiariam pelas certezas e que me arrancariam dos silêncios. Sinto falta de fazer falta a alguém. Penso, inúmeras vezes, no que significaria estar com quem estivesse mesmo e me sossegasse a mente inquieta. Sei que fujo dos amores que apenas eu desenharia, na esperança de me cruzar com algum que viesse devidamente desenhado para mim, porque estou consciente das inevitáveis improbabilidades. Somos seres únicos, carregando demasiados pesos desnecessários e padecendo de dores muitas vezes invisíveis que infligem ainda mais dor.
Já deixei de levantar os que escolhem ficar pelo chão. Já não me explico demasiado, bato em retirada da mesma forma tranquila e intempestiva com que cheguei, porque nunca serei apenas uma, recolhendo ao meu lugar emocional. Já quebro menos, sabendo que apenas assim me impedirei de partir.
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