Encontrei-me com a Clara e estivemos a por a conversa em dia. Vi-a gritar por mim enquanto passava pela montra da pastelaria, e mesmo tendo a marcação para a cabeleireira, corri para nos mimarmos um pouco. Arranjamos sempre que podemos, forma de falarmos de nós, de nos por-mos à prova e de pedirmos apoio e conselhos. Gajas!!
Ouvindo-a falar da relação que mantém com o Artur, fiquei a pensar em como nada do que partilho com o Jorge será minimamente próximo, e em como afinal apenas "sobrevivemos", não mudamos, inovamos, criamos espaço para o outro se encher de prazer, ser mais feliz e completo. A culpa, a existir, não será totalmente dele, eu tenho que aprender a verbalizar o que sonho fazer, a forma como pretendo ser tocada e amada, o que entendo ser uma verdadeira relação entre duas pessoas que se quiseram mal se conheceram. Vou ter que inovar, crescer como mulher, ir até onde a minha vontade dele me levar.
Nunca, até hoje, deixámos de nos amar fisicamente, de nos procurarmos, mas tem sido sempre tão normal, tão morno, habitual.
Hoje fiquei a pensar o que pensará ele de mim, passo a redundância. Será que me vê como uma peça de vidro à qual não pode tocar com demasiada força, com medo que quebre, que me magoe?
Vou ter que lhe gritar quando estiver nos seus braços, que o quero imponente, que mande, que me diga como e quando fazer tudo o que agora imagino realmente deseje. Onde estive eu, a mulher que ele escolheu, todos este tempo? Porque razão, e já com muito mais do que os 28 anos que tinha quando me carregou ao colo e sussurrou que iria ser para sempre, ainda não me libertei da educação castradora que sofri? Eu sou a que partilha toda a sua intimidade, que sabe como fica excitado com apenas um beijo quente que lhe dou quando o pretendo provocar, como toca nos cabelos já grisalhos sempre que não sabe como me encher de mais prazer, de como olha o meu corpo com aprovação, mesmo após todos estes e anos e 2 filhos depois, como o meu toque no seu peito torneado o enlouquece. Deveria ser eu também, a que lhe permitisse crescer na relação física, não se "encolher" perante o receio de estar a ser demasiado para a frente como dizem os jovens hoje.
O meu homem teria que olhar para mim como a mulher que o consegue enlouquecer na intimidade, a quem ele ouvisse gritar palavras que jamais repetirei em publico, e gozarmos os dois com o que fomos criando estes anos de muita felicidade, de alguns encontros e desencontros.
Enquanto sentia os meus cabelos massajados pela Tânia, fui-me revendo e acabei a sorrir perante a mudança que alguns minutos tiveram na minha existência. Voltei para casa mais confiante e capaz de dar tudo o que tenho dentro de mim, escondido e desejoso de sair, de explodir.
Não vou esquecer tão cedo os olhos de espanto e de emoção do Paulo, ele não parecia acreditar que eu me tornara na mulher pela qual esperou todos estes anos.
- Estou aqui meu amor, e de hoje em diante estás proibido de me amares uma grama a menos do que desejas e sonhas. Estou aqui para te provar que quando disseste para sempre, sabias que era eu, aquela que te daria o melhor deste mundo!
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