Mal me disseste que afinal existia outra pessoa na tua vida, fiquei em choque, não era nada que não esperasse, mas ouvi-lo de ti assim, com toda a frieza, olhando-me e forçando-me a aceitar uma realidade que não desejei, quase me fez desmoronar.
- Julgo que já o sentias, e há coisas que não podemos evitar, espero que compreendas.
Sim, eu sei disso, no entanto o que me fez ficar mal, não foi a revelação, foi o tempo que te devotei em vão. Estive demasiados dias, meses e anos a cuidar de ti, a fazer apenas o que te deixava feliz, a evitar que te aborrecesses, a anular-me uma e outra vez, e para quê? Para perceber que o que o meu interior me dizia tantas vezes, afinal era real.
Tu nunca te empenhaste o suficiente, tomaste-me por garantida, atribuíste-me um papel que não pedi, mas que mantive, porque era o que todos esperavam de mim, até eu mesma. Julgava-me demasiado exigente, uma eterna insatisfeita, mas agora enquanto te olho, altivo, determinado, seguro dos teus sentimentos, não posso deixar de me sentir magoada comigo mesma, de me achar burra, e de me esvaziar por dentro.
O maior cego é o que não quer ver, é o que vai protelando decisões, adiando a felicidade, entregando a outro um direito que não lhe assiste.
- Não vais dizer nada?
- Espero que sejas muito feliz, mas que sobretudo, desta vez, descubras a capacidade de fazer outra pessoa também feliz. Eu não o fui contigo, mas saio de cabeça erguida, porque te dei mais do que alguma vez serás capaz.
- Não precisas de ficar amarga.
Larguei um sorriso triste, virei as costas, a ele, ao que a vida com ele representara, agora teria que ser eu a decidir, a comandar, a procurar e a exigir o que sabia merecer.
Virei as costas e já nem ouvi mais...
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