Bonita, alta, altiva, cabelos longos e olhos expressivos, fazia virar cabeças, não deixava ninguém indiferente!
Estava a morar na rua pela qual se apaixonara mal a vira, no mesmo minuto em que olhara as varandas verdes, cheias de flores e de cheiros que lhe pareciam surpreendentemente familiares.
Com o novo emprego, decidira fazer e começar tudo de novo, apenas ir onde lhe apetecesse e retomar todos os sonhos e desejos que deixara por satisfazer.
Imaginara-se a viver num apartamento virado para o rio, com um terraço soalheiro, chão de madeira com cheiro a antigo. Ansiava pelo prazer de a decorar e mobilar, pintar paredes e pendurar os seus próprios quadros e fotografias.
Agora tinha um espaço totalmente seu, no qual só deixaria entrar quem o seu coração reconhecesse, mas até lá seria apenas ela, as noites com chocolate quente, filmes que a fariam chorar baba e ranho, toneladas de livros cujo desejo de leitura há muito fora adiando.
No trabalho achavam-na enigmática, demasiado bonita para ser real, dirigiam-lhe olhares de gula e admiração e ela sorria para dentro sentindo-se poderosa e feliz. Agora estava no seu mundo, a fazer tudo pelo qual tanto esperara.
Do alto da varanda, que agora sua tanto admirara, sentia-se renascer, todo o seu corpo e alma se revitalizavam. Aqui seria ela mesma, real!
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