Existem males do coração que o corpo consegue curar, por isso decidi que contigo seria possível e foi realmente. Não nos prometemos nada, pouco falámos, apenas nos abraçámos, como se o amanhã já não fizesse falta e tivemo-nos.
Não me recordo, não desde que me conheço por pessoa, de ter feito amor apenas por precisar de pele. Ter sido contigo foi um acaso do destino, ou talvez não. Enquanto deambulava solitária numa rua fria e deserta, apareceste com um olhar de quem se sente abandonado e sem me pedires, abriste a porta do carro e eu entrei. Não te olhei, deixei-me conduzir e senti que precisava de alguém que estivesse a precisar de mim da mesma maneira. Não sei onde fica a tua casa, não teria como voltar porque não estive atenta ao percurso. Não sei a cor das paredes, não me lembro sequer de onde estava a porta da entrada. A tua mão empurrava-me de mansinho e foste tu que me despiste. Recordo as palavras de encorajamento, porque mesmo que tivesses percebido o meu sofrimento, querias que o nosso prazer me devolvesse o chão e me pusesse de pé outra vez.
O som da tua voz guiou-me, dizias que era tal como sempre me tinhas imaginado e uma visão que fizera por merecer. Fazer amor contigo foi ritmado, tranquilo e desesperado. Ardemos ambos num desejo que quase nos consumiu, mas tivemos exatamente o que parecíamos precisar. O teu corpo também me surpreendeu, és tonificado, musculado e tens uma força que me fez levantar como se eu fosse uma pena. Também não falámos no regresso, mas o beijo, sincero e cheio do desejo que tivéramos, selou a promessa de que iremos voltar a tentar. Olhaste-me de forma tão profunda, que quase me desnudaste a alma, e fizeste com que te dissesse, ainda sem palavras, que confiaria em ti para me sarares. Se começarmos ambos do mesmo ponto, acredito que não tenhamos que fazer muito mais para nos acertarmos.
Começámos pelo fim, eu sei, mas também sei que tens o que tenho e que não estás preso a qualquer grilheta física ou emocional. Começámos pelo fim, mas qualquer começo é válido se o que desejamos for comum.
Não te agradeci ontem, mas faço-o aqui hoje. Obrigada por me teres vindo salvar de mim!
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