A Andreia está há demasiados anos sem companheiro, por escolha, por medo, por incapacidade de voltar a entender o sexo oposto, ou até por preguiça mental e física. Não sei o que importa realmente, se a razão se a acção, mas a certeza que me ficou do que tem, é que não tem nada. Esbarrou, literalmente, em alguém. Encontrou quem nunca se atreveu a procurar, porque se escudou num desinteresse que nem ela acreditava existir, mas que a deixou na prateleira tempo demais. Agora tudo o que lhe chega parece demasiado. Agora até as carícias e os beijos lhe parecem finitos e nunca sossega a alma que atribulou, ela mesma. Agora e por ora, recusa o amor físico que acredita ser demasiado intenso para quem ainda não sabe como voltar a sentir. Agora quer, desesperadamente, acreditar que pode voltar a ser amada, mas ela mesma não sabe como o fazer.
A Andreia dorme e acorda inquieta. Fala, descontrolada e desesperadamente do que o Artur poderá representar na vida que apenas deixou correr, sem muitas ambições, deambulando sem se reconhecer. A Andreia tem medo que os tempos que passam, tenham passado para ela, irremediavelmente. Talvez tenha deixado de acreditar, ou talvez tema acreditar demasiado e voltar a sofrer.
Quando os tempos passam demasiado rápidos e implacáveis, temos que os saber recuperar, mesmo que apenas alguns dos minutos das muitas horas em que nos deixámos sobreviver.
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