A Ana Alexandra, nome de conjugação invulgar, a A.A. como a conhecemos, tem mudado, de vida, de país, de postura e até de corpo. Decidiu que deveria ser, mesmo, a mulher que perdeu no passado, porque o condicionou, deixando de ser para parecer, mas acabando desgastada, maltratada pelas duas gravidezes, uma delas de risco. Traçou, com toda a determinação, cada passo a percorrer. Transformou-se ao ponto de já não ser reconhecida, passando, aos outros, uma segurança que nem ela acreditava ter. Voltou para a faculdade, retomou a licenciatura adiada pelo eterno emprego de mãe e transformou-se na mulher bem-sucedida que arriscara ver ainda menina. Mudou de emprego, de cidade primeiro e depois de país.
A Ana está mais bonita, mas os olhos deixaram de brilhar. Fala pouco, carrega talvez mágoas que poucos entendem e permitiu-se deixar de ter paciência. Fora do seu elemento, de todos quantos a julgavam sem a conhecerem, consegue fazer acontecer. Mantém-se mãe de filhos agora grandes e que usufruem de tudo aquilo em que se transformou. A Ana é independente e segura. Fala do que sabe, mas escuta pouco. Debita palavras estudadas e não explica nada sobre a sua parte romântica. Não haveria nada a explicar, deixou-se morrer, matou-se, juntamente com um amor que não venceu.
A Ana sabe que mesmo que mude, até de planeta, o levará consigo e a manterá a falar, dele, com as amigas que lhe restauram de alguma dor. Nós, eu, alimentamos-lhe o sofrimento e ouvimo-la até à exaustão. Fala até que as lágrimas retornem, as que julgava já secas e depois, depois de tudo, de ser apenas ela para as que a vêm mesmo, levanta-se e retoma a postura, a altivez e a beleza que ainda não a abandonou.
Dói vê-la tão dorida e sabemos que mesmo que mude, de tudo, nunca poderá mudar de pele e deixar para trás quem até ficou no passado!
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