Somos feitos de uma matéria que se esvai com o tempo e com as mazelas emocionais. Somos assim, carregando genes que nos baralham e impede muitas vezes de prosseguir por outros lugares. Somos assim, feitos de um corpo que nem sempre nos acompanha e de olhares que por vezes nos esquecemos de ver. Tentamos saber o que transportamos, mas na maior parte do tempo apenas seguimos sem muitas questões, fazendo o que todos fazem e não querendo querer demasiado.
Somos assim e já nem nos lembramos de como éramos. Da felicidade que carregávamos como crianças porque queríamos acreditar. Sentíamos da nossa maneira e parecíamos ter o mundo nas mãos, não duvidando dos nossos desejos, mesmo que duvidássemos de quem levaríamos connosco. Somos assim e se nos perguntarem o que mudou, talvez não saibamos responder. Quem sabe já não nos apeteça perder tempo, sobretudo a descrever o que se foi. Que mentiras nos contámos e que recordações mantivemos. Será que existiram mesmo? Será que já nos soubemos diferentes? Será que teríamos que ter passado por "ali" até chegarmos ao "aqui" que nos aprisionou?
Já nos magoaram. Já nos deixámos magoar, mas também já recebemos o melhor de nós, tudo o que nem conseguíamos antecipar, até em sonhos que sempre soubemos sonhar. Já nos iniciaram no amor, tocando pela primeira vez o corpo que voltaríamos a sentir tocado. Já nos quebraram em pedaços que nem outros amores poderão colar juntos. Já nos disseram que estavam prontos para nós e já partiram sem que os pudéssemos impedir. Já soubemos, assim que nos olhámos pela manhã, numa manhã como a de hoje, que a viagem tinha terminado muito antes de começar.
Somos assim, feitos de tudo o que nem sempre teremos como recordar. Mas somos também assim, feitos de uma força que nos levará para o lugar certo, amanhã, depois e no dia imediatamente a seguir ao termos achado que já estávamos mortos!
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