Ela era a minha mulher. Era com ela e por ela que mudava até o meu caminhar. Ela era quem me
acolhia quando o resto do mundo me deixava seguir, sem rumo, sem me olharem e
sem saberem como me ver. Ela era a minha mulher e eu deixei de a
reconhecer, vi-a partir e não me movi, paralisei num medo absurdo de não ser
capaz de usar as palavras para tudo o que se me apertava dentro. Ela era a minha
mulher e perdi-a!
Do que somos feitos quando parecemos não conseguir guardar dentro, NADA do que nos motiva e incentiva a
iniciar uma relação? Porque esperamos sempre demasiado dos outros, de quem
conseguimos amar, numa dor que também dói, porque o amor não são apenas corpos
que se juntam e tocam como mais nada nem ninguém consegue, e não damos na mesma
proporção, subtraindo para depois não ter o que dividir? Do que somos feitos quando escolhemos não guardar nada do que armazenámos e apenas
porque começámos a amar? Do que somos feitos quando alguém, a nossa metade, nos olha e pede que fiquemos, que
partilhemos, que estejamos prontos porque o momento chegou? Do que somos feitos quando escolhemos não ser feitos de nada?
Ela era a minha mulher ao acordar. Eram os seus olhos de mel que via primeiro e o seu
sorriso que beijava, nuns lábios que me sabiam sempre ao seu sabor. Ela era a minha mulher quando se
aninhava carente, mas confiante, no corpo que tantas vezes lhe deu o que nem
precisava de pedir. Ela era a minha
mulher de cada vez que me oferecia um abraço silencioso, mas que me gritava
alto que estava ali para mim. Ela era a
minha mulher quando corria pelos dias loucos, apenas para estar quando
estivesse. Ela era a minha mulher
e foi-o sempre e a cada minuto. Ela era
a minha mulher, mas perdi-a!
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