20.12.16

Agora apenas nada!

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Agora apenas nada! Agora acho que já não me sinto. O meu corpo não me obedece, abandonou-me, deixou-me a desejar parar de me mover e pede-me a cada dia que desista e que acabe como tu, no lugar para onde te perdi. Lutar foi o que fiz. O desejo de que houvesse um erro, de que fosses mais forte e que o nosso amor bastasse para empurrar o que te consumia, pareceu a opção certa. Nunca te deixei sentir o anoitecer. Nunca te abandonei. Ofereci-te o que desejava para mim mesma. Tive-te, tivémo-nos, com uma intensidade e velocidade que nos permitiu tocarmo-nos bem dentro, sermos um só e estarmos vivos enquanto a morte nos rondava a ambos.

Deixei que acordasses com o meu olhar vibrante, mesmo após tantas noites em claro onde te olhava e vigiava o teu sono inquieto. Percorri todos os pedaços do corpo que tantas vezes me enlouqueceu de amor e memorizei cada sinal, os músculos que fraquejavam e os cabelos que cheirava para te armazenar. Foram tantas as vezes que consegui estar dentro de ti, viajando para o lugar onde te perderia, tocando a tua alma e gritando em silêncio que se te perdesse não iria resistir. Foram tantas as vezes que implorei que me levassem a mim e tentei explicar, em vão, que não sabia como ultrapassar a tua perda. Foram tantas as preces e os choros, enrolada em mim.

Acabou por ser a caminhada mais difícil da minha vida. Fi-la ao teu lado, liderei-a algumas vezes e recuei para que brilhasses durante o tempo que te restava. Tudo o que terminou contigo testou cada um dos meus limites. Cada etapa foi ultrapassada sem que nem eu soubesse como passaria à seguinte. Cada amor feito, mais de mansinho, mas com bem mais entrega e certezas, serviu para que soubesse o que estava a perder. Cada olhar teu, entrava-se-me na alma até me secar e matar. Cada lágrima derramada por ti, e que eu bebia para poder sentir algum calor, servia para que também as minhas se misturassem e tivessem onde se encontrar.

Não sei de que forma me conseguirei reconstruir. Não sei se alguma vez voltarei a ter voz, ou a sorte de morrer de amor, de me deitar quieta e de já não acordar. Não consigo sentir-me, estou tão vazia que me dói respirar. Os sons que me acompanhavam não existem mais, nem sequer a música me envolve. Foste-te e contigo metade de mim deixou de existir. Apagaste-te e o meu sorriso nunca mais se voltará a iluminar. O que me resta agora é apenas nada!

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