Estou a ler a tua mensagem no telemóvel e entre o imóvel e o incrédulo, fico sem saber como e se responder. É inevitável que volte atrás no tempo e me recorde do que tivemos, mesmo que pareça que já foi há séculos. Finalmente, consegui tornar os meus dias suportáveis. Finalmente estou de pé, não sofro, mas sinto-me adormecida, sem projectos novos e sem rumo definido. Consigo felicitar-me por sobreviver, por me manter à tona, estar desperta e a prosseguir. Nada voltou a ter sabor, ritmo, risos de felicidade ou amanheceres tranquilos. Todo o mundo deixou de se iluminar, até hoje...
"Estou com falta de ti, preciso de te voltar a ver. Perdoa-me amor, fui um imbecil e estou em pânico só de imaginar que me devotarás o mesmo silêncio. Estás a ler-me, eu sei, conheço-te mais do que tu mesma, sei como franzes o sobrolho quando te elogio e sei como acordas de manhã tão linda quanto te deitaste e após tanto amor feito. És a minha mulher e foi por cobardia que te abandonei julgando que me manterias preso, que não seria nada sem ti e acabei a perceber que me libertaste, deste-me força para tomar as minhas decisões e para descobrir os mundos que tracei no meu livrinho de projectos. Foi contigo que me conheci verdadeiramente e passei a apreciar os silêncios, os sons e até as palavras que dizias sem falar. Ainda te sinto, escuto e consegui até ouvir os gritos que nunca saíram do teu peito, mas que te estarão a consumir. Sei agora que em nenhum outro planeta estará a outra metade de mim, se ela existir já a encontrei e os meus membros recusam continuar se não estiveres por perto. Perdoa-me amor e aceita-me de volta. Vem aninhar-te no meu peito como sempre fizeste quando procuravas segurança e mimo. Vem amar-me, estou aqui".
Sei que esperei mais de metade da vida que me restou por palavras escritas assim, com esta intensidade, a dizerem TUDO sem quaisquer reservas. Sei que já estive, durante noites a fio, enregelada até à medula. Sei que me fui parando e secando por dentro, com medo de morrer e continuar viva. Sei que todos os meus minutos se transformavam em infindáveis horas. Sei que metade do meu corpo se recusou a ser reconhecido e nunca mais foi tocado. Mas sei também que te sobrevivi e parei de esperar e é por isso que leio e releio o que já não parece real ou possível. Sei que te quero ligar e pedir que venhas a correr. Sei, mas escolhi parar-me, agora, por ora, até que volte a fazer sentido.
Tanto que esperei que certamente parei de esperar...
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