10.1.17

Este mundo!

no balanço dos descuidos, no trajeto dos arremessos:



O lugar que antecipei contigo nunca chegou. O que quase saboreei, de cada vez que provei o teu sabor, não permaneceu. O que desejei, para os dois, nunca me coube manter, porque a verdade é que estive sempre a amar sozinha. Fui apenas eu a sonhar acordada e a dormir. Fui sempre e só eu, à espera do que nem sabia se chegaria, mas com toda a convicção que carregam os que têm sentimentos reais. Fui sempre eu a quebrar, a pedir e a implorar e fui sempre eu a teimar, numa teimosia que quase me sufocou e nunca adiantou.

Agora que já mantenho uma distância segura, consigo olhar para tudo o que fomos e dissemos sentir, com sorrisos de condescendência e até de alguma satisfação, porque a verdade é que quem se dispõe está vivo. Quem se dispõe acredita no futuro e quem não desiste dos que ama, terá forma de continuar.

Desta vez não terei nenhum amor para sarar outro. Desta vez não precisarei de ser salva de nada para me manter viva. Desta vez estou, completamente, limpa e livre, para aceitar quem consiga chegar, mas vendo, com clareza, quem é. Quem diz ser. Quem consegue ser, para mim e até onde se sente capaz de ir.

Se tivesse o ego inflamado, ou se me considerasse acima dos outros mortais, ainda poderia estar a babar-me com todos os elogios e avaliações externas. Mas a verdade é bem mais simples e directa, quero apenas ser um ser comum. Quero quem me queira sem riscos de queimaduras de terceiro grau. Quero a pessoa que me foi reservada, sem reservas. Quero que acordem e adormeçam a saber que têm quem merecem, porque fizeram por me merecer.

Este mundo é um constante dar e receber. Levar e trazer e partir para por vezes nunca mais voltar. Este mundo é tudo o que conseguirmos desejar, se o nosso desejo for grande o bastante. Este mundo só fará sentido pela capacidade de darmos o que ainda é gratuito, totalmente legal e suficientemente catalisador de vontades. Este mundo tem o tamanho dos amores que formos capazes de sentir e é apenas por isso que sou TÃO grande, que poucos me conseguem chegar!

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