Ninguém me conhece. Ninguém sabe do que sou feita, como me construo, o que espero de mim, da vida e de quem possa estar ao meu lado. Ninguém me conhece e nunca ninguém soube o que perguntar e como me olhar para me realmente. Eu sei que a minha carapaça era espessa e que me protegia do mundo, mas a verdade é que o mundo nunca soube ver-me para além do invólucro, ouvindo-me e bebendo a voz que apenas diz o que precisam de ouvir. Ninguém me conhece e todos acreditam que tenho uma força que tudo ultrapassa, mas eu sou, tal como cada um dos que me rodeia e sonha, insegura e frágil. Não o demonstro porque de pouco me valeria.
Para os que não me conhecem ainda, os que já se encontram no meu percurso, é bom que saibam que apenas irão recebendo os pedaços que me apetecer soltar. Ficarão com os minutos que me sobrarem, quando em algumas horas teriam céu e terra. Mar calmo e revolto. Sol e chuva intensa, daquela que nos lava a essência e nos repõe a inocência.
Estou para aqui, a olhar-me verdadeiramente e a lamentar que de todos, nem sequer tu, me conheças ainda. Percebi que afinal nunca irei ter o que julgava natural. Não te vou ter a ti, porque se não me conheces já e se tudo o que te mostrei, com e sem palavras, não bastou, então só me resta mudar o rumo e começar de novo.
Podemos até ir fugindo e é certo que o faremos todos, de uma forma ou de outra, mas quem se importar, verdadeiramente, com o que somos e representamos na sua vida, fará por saber. É assim que eu funciono. É assim que eu construo quem amo. É assim que vejo as relações, que terão que ser inteiras e nas quais precisaremos de saber do que mais ninguém consegue.
Se fosses realmente diferente. Se me conhecesses como ninguém conhece. Estarias aqui. Terias escolhido ficar. Saberias o que esperar e de que forma poderias contar, sempre, comigo. Mas a realidade é esta mesma, ninguém me conhece...
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