Confirmei que afinal não era a mim que te agarravas. Tivemos, finalmente, a nossa conversa tranquila e esclarecedora, os fantasmas foram sempre teus e a minha recusa em prosseguir deu-te algum alívio e a segurança acabou por regressar. Fui a tua tentativa para esqueceres quem ainda não se levou toda. Os amores não têm um botão de on e off. Os amores são o que construímos e esperamos deles, até que já não possamos esperar mais nada.
Foi um final de tarde frio, daquele que nos entra nos ossos e parece querer arrastar-nos para o esquecimento. Doeu a dor que me infligiste, mas mantive-me tranquila e conciliadora. Nunca se mendiga amor. Nunca se espera, ou não deve esperar, por quem não sabe como vir. Nunca se sonha ininterruptamente, porque a dada altura teremos que acordar.
Saí de mansinho, com uma desculpa meio tonta da qual já nem me recordo, e deixei que a chuva caísse violentamente sobre mim, aliviando o fogo que se formara na pele. Saí com a certeza de que não teremos como sobreviver a isto e com o amargo que a ocultação provoca. A fronteira entre a mentira e a tentativa de afastar o que nunca se afastou, tem o mesmo peso, a mesma avaliação e provoca os mesmos danos.
Eu abri-me, algures lá atrás e falei-te do meu passado, de mim, de quem nos poderia ensombrar. Tu ouviste-me, impassível e em momento algum te lembraste de falar de quem falas, contigo mesmo e de quem ainda procuras.
Poderão ser muitos os caminhos a percorrer. Poderão até ser mais visíveis e a parecerem levar a algum lugar, mas a verdade é que só saberemos do outro o que ele nos quiser dizer. Tinha feito uma escolha. Tinha decidido procurar o que já me chama há algum tempo. Só não tinha percebido que nunca irias estar do outro lado à minha espera!
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