Pareces querer que seja condescendente com a tua inércia. Pareces
precisar que aceite que não sabes como fazer melhor, mas não sou capaz e
recuso-me a olhar-te como se fosses indefeso. Queres que entenda as escolhas que deixaste por fazer, mas não tenho como, porque a cada dia, durante todas os minutos e
horas, sou forçada a escolher por mim e pelos que estão à minha
responsabilidade. Faço acontecer. Vou, quando me apetecia, tantas vezes ficar.
Decido, baseada em muita pesquisa e escolho o que me servirá, porque não me
serve não escolher nada nem ninguém. Encontro o que procuro, mas tenho mesmo
que saber como e onde procurar. Tenho orgulho
em mim e recuso a fraqueza que me impediria de continuar, como sempre fiz e
pretendo continuar.
Por vezes quase que me deixo
levar pela vontade de ser como tu. Quase que me liberto do peso de parecer, mas
rapidamente, poucos segundos depois, encolho os ombros e rio-me do arrojo.
Poderia, até porque a isso tenho direito, não estar tão certa. Não ir tão
longe. Não fazer acontecer tanto. Poderia, se eu mesma me permitisse, regredir
e aceitar metade de coisa alguma. Por vezes até que me apetece deitar e
desistir, mas sei que se não for eu, mais ninguém poderá dar tanto e estar tão
próximo.
Não sei quando e de que forma
consegui ver quem não existia. Não sei onde fui buscar tanto conteúdo para um
recipiente totalmente vazio.
Não sei como fui capaz de ler o que nunca esteve escrito. Não sei tanto, nem
como deixei, por breves-segundos, os que bastaram, de lado o pragmatismo que me
mantém viva e em segurança. Mas assim mesmo, não sei como vou sabendo tanto e
conseguindo prosseguir.
Posso até achar que pareces
querer alguma forma de validação, mas já me impedi de arrastar inverdades e
sei, como sabem os que fizeram por amadurecer, que não queres coisa alguma e
assim continuarás...
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