Estou a sentir-te agora, neste preciso momento, enquanto todas as partes do meu corpo se movem, numa dança que já conheço, acompanhada dos sons que me dizem tanto, porque estás em cada um. Estou a sentir-te enquanto me solto, em cada movimento, levando a que as minhas pernas saibam, exactamente, o que fazer e quando. Estou a sentir-te com os olhos fechados que ainda assim te conseguem ver e te imaginam, colado a mim, lânguida, pronta, desejosa de um desejo que não passa, não até que te tenha.
Sou feita tanto de sentimentos, quanto de sons, os que servem para me acordar de mim e voltar a funcionar. Sou a que encontra sempre forma de se restaurar, sobretudo quando o despertar não foi o esperado. Sou a que conhece, tão bem, este corpo por onde só tu passas, mesmo quando não estás.
Sou a que te encontra de cada vez que te procura, porque há sempre forma, sobretudo quando o que está do outro lado é o que faz este continuar.
Não paro, não me sossego, não desligo até que toda a forma de te sentir me encha e preencha cada pedaço. Não permito que te vás por muito tempo, porque sei como te manter vivo e à minha espera também. As músicas que vão surgindo, uma a uma, e passeando por mim, são o antídoto milagroso para tanta espera, para cada segundo que sei que não te trará, mas que também te impedirá de partir.
As músicas escolhidas a dedo, fazem-me voltar a mim, a ser quem precisa de funcionar a 1000, estando em todos os lugares em que faço falta. As músicas que escuto, atenta, permitindo que entrem em mim como entrarias se estivesses aqui, para me tocares onde preciso e para não enlouquecer de uma loucura que me levaria até o que nunca ninguém conseguiu arrancar.
Tudo acaba a funcionar outra vez, quando funciono. Quando sou aquela com quem se conta, a que cuida de quem tem que ser cuidado, estando onde é previsível, mesmo que fuja, por segundos, para onde mais ninguém me encontrará, excepto tu, que nunca sais de onde estiver.
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