Os dias acordam sempre muito mais ligeiros e sem que nada pareça precisar de muita pressa. Há muito que deixei de ouvir chamar "mãe" a cada 10 segundos. Sei que o sou e que continuo a semear o que os meus acabarão por recolher, mas já nada passa exclusivamente por mim, apenas o cuidado, o colo quando dele necessitarem e porque estarei de pedra e cal para cada um. Os dias dizem-me que tenho que procurar o que me serve, estando onde eventualmente me fará sentido, mas ainda sinto que estou a tactear, sem demasiada luz, se é que alguma vez a tive em abundância.
Não sofro do síndrome de ninho vazio, até porque ainda tenho uma das crias comigo, até porque seguramente acabarei a preencher-me do que antes não me era permitido, reavaliando o que adiei por ter escolhido outros caminhos e respostas. Não me detenho demasiado no silêncio que nos inunda a casa, apenas cortado pelo ladrar do cão que julga ser o chefe da matilha, coitado, não conhece a "mãe", porque na dianteira da minha vida estarei sempre eu.
Os meus dias agora pedem-me um tempo diferente e sou capaz de olhar de forma mais atenta para o que está à minha volta. Sinto-me a despertar de um longo sono, estando mais acordada do que nunca e bem mais consciente do que terei que conquistar para não sofrer dos arrependimentos que perseguem e matam. Os meus dias agora estendem-se miraculosamente e dou comigo a sorrir perante a oferta do Universo e se me é oferecido, quem sou eu para recusar. Os meus dias agora são quase inteiramente meus!
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