Vou fingir que posso mesmo escrever tudo sobre mim, sem estar sujeita a avaliações. Vou fingir que estou emocionalmente pronta para dizer o que mais ninguém sabe. Vou fingir, porque posso, que acabarei por ser entendida e que a minha aparente segurança, que muitos denominam de arrogância, eventualmente deixará de incomodar.
Gosto de sentir que os meus sorrisos chegam de bem dentro e que não sorrir também me é permitido. Vou continuar a gostar de esbarrar em pessoas improváveis, quando sem planear afinal consigo que se enquadrassem. Estou na chamada fase do desligamento, não procuro nada que não me faça já sentido e arrumo todos os que jamais fizeram, julgo que muitos não terão forma de perceber o quanto é libertador.
Vou fingir que oiço palavras coerentes de mentes sem qualquer coesão, porque tenho que me permitir o sossego que me sossega a alma. Vou fingir que a maioria entenderá o que falo, para não dinamitar cérebros já tão pouco activos. Vou fingir que o meu semblante carregado, quando me tentam carregar de estupidez, não afasta irremediavelmente os fracos, porque deles também é feito o mundo e tenho que saber viver nele. Vou fingir que já não preciso de fingir mais e ser finalmente eu!
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