Temos dias que se arrastam para lá das horas que supostamente serão as mesmas, mas que parecem não terminar, nem quando termina o nosso esforço para nos mantermos acordados e vivos. Temos pessoas que nos testam os limites e outras que parecem já nada parecer, nem quando se mostram, porque certamente já não se cruzam connosco, não pelos mesmos lugares emocionais. Temos palavras que usamos de forma indiscriminada e outras que nunca nos atrevemos a proferir para que não nos desnudem, mostrando quem somos por dentro.
Os lugares que cruzamos, uma e outra vez, não terão forma de parecer iguais, porque também já não os seremos, não a cada acordar e não depois de mais um recolher pleno de vida, de sabedoria, para os que a procuram e de olhares reais, porque a realidade é o que fizermos dela. Os momentos que passarem, enquanto escolhemos passar sem sermos demasiado visíveis, já não poderão ser recuperados e por isso voltamos às escolhas, as que devem ser feitas e as que nunca seremos capazes de fazer, por vergonha, por medo, por incapacidade, ou simplesmente porque será mais confortável manter a vida de sempre.
Temos dias em que questionamos até quem nunca fomos, mas esperando pelo momento em que o reflexo, num qualquer espelho, nos conseguirá finalmente surpreender.
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