18.6.21

A carta que nunca escrevi!



Olá meu amor,

Tenho olhado, de forma circunspecta e quase alheada da realidade, para uma folha de papel vazia que tento em vão preencher. Tenho sentido que já nada me preenche, nem sequer a ideia do que fomos e tivemos. Tenho-me deixado ir, sem muita vontade de te arrumar, mas sabendo que terá que acontecer.

Foi sempre natural para os dois as trocas constantes de cartas. Adorávamos a espera, a abertura do envelope e o cheiro da tinta permanente. As respostas eram pensadas e tínhamo-nos prometido abordar tudo, não deixando nada por dizer e sentindo que apenas assim nos passaríamos de forma mais inteira. A escolha do papel timbrado com o nome, os desenhos de corações e a assinatura desenhada, tudo servia para que nos servíssemos melhor, mas não passámos muito delas.

Ainda não sei bem o que escrever, talvez porque não espere pela resposta, os teus silêncios há muito que se instalaram, tirando-me o chão que pisava com tanta confiança e certezas. Talvez acabe por não te enviar a que considero ser a última, muito provavelmente porque já nem a irias ler. 

Os momentos a dois terão que ser definidos por ambos e assim aconteceu até ao dia em que te consideraste mais importante e me deixaste de querer. Os planos só farão sentido se nos incluírem em cada etapa, mas a verdade é que o "nós" mudou e com a falta dele a tua ausência definitiva. O que desejamos só contará como importante se o outro nos tiver no desejo, de contrário não passará dum sonho e o acordar inevitável.

Ainda não sei o que vou escrever, mas de repente até isso deixou de ser importante, por isso a folha permanecerá assim, em branco, tal como o nosso final.

Adeus meu amor,

Eu

Sem comentários:

Enviar um comentário