Não acordo todos os dias cheia de coragem e propósito, mas desde que coloco os pés no chão e me dou tempo para pensar no que me move, mudo de imediato o chip e desato a cuidar-me por dentro, preparando-me para o efeito exterior. Já vou cada vez menos ao passado e até me permito esquecer do que antes me parecera tão importante. Não sei muito mais do que já sabia, mas continuo a evoluir na minha passada, sabendo esperar pelo que acabarei por conquistar. Já não ouço as mesmas músicas, encontro-me com umas quantas novas que usam das palavras que melhor me reflectem hoje.
Mais de meio ano se passou neste cenário de catástrofe colectiva, mas 2021 tem sido, de longe, o melhor ano do meu meio século de existência. Estou MESMO em cada momento e lugar, não apresso a vida, ao invés vivo-a com a consciência de que serei e terei tudo o que for capaz de antecipar. Caminho diariamente, fazendo os 10 quilómetros propostos, sem interrupções nem desculpas e descubro habilidades e lugares que antes apenas via passar na minha linha do horizonte. Sou bem mais tranquila, generosa comigo e inflexível com os que me roubam a paz. Sei exactamente quem sou e do que necessito para nunca mais precisar de me justificar, não sobre as minhas escolhas e decisões. O meu coração de mãe está mais pleno de emoções que desconhecia, porque passei demasiado tempo apenas a cuidar, mas agora permito-me usufruir das conquistas de cada filho, da sua maturidade e discernimentos. Deixei de ter dúvidas quanto ao que lhes proporcionei, porque a verdade é que têm TUDO o que necessitam para serem as pessoas que me propus criar. O curso intensivo de amor no qual me matriculei mal nasceram, tem-me enchido de créditos que poderei resgatar até ao final da minha "caminhada". Fui passando com distinção a cada exame e mesmo que a vida não tenha um roteiro final, porque até quando já não estiver estarei sempre, sei que me tornei mais hábil na leitura das legendas e interpretação dos sinais.
Não acordo todos os dias de sorriso em riste e convicta de que a minha decisão de permanecer sozinha é a mais acertada, mas de cada vez que me permito duvidar, lembro-me do muito que me proporciono e do quanto é difícil encontrar quem se encontre comigo e me siga as passadas, sendo tão resolvido e pleno quanto me considero. Não acordo todos os dias a saber ao que me saberão os dias de solidão quando já não tiver como voltar atrás, mas porque me foi dada a capacidade de escolher, escolho decidir com base no que me diz o coração agora.
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