Perdi-te, mas todos insistem em me recordar que é suposto continuar, mesmo que sem ti, sem saber o que fazer nem quando, porque eras a cuidadora, a minha estrela do norte, o lar e o colo que deveria ter sido sempre eu a dar, mas que me oferecias na perfeição. Deixaste de estar aqui e as minhas mãos recusaram o papel que lhes cabia, por isso nenhuma cor voltou a inundar os pincéis que te retratavam tal como eras, linda e perfeita. Partiste, sem viagem de regresso e sem sequer uma hora a que me possa agarrar, tal como o faço aos teus traços. Olho para o que restou de ti, de nós, do que sonhámos de forma livre, tranquila e a acreditar que o mundo seria generoso para com o nosso amor, mas nada me preenche o vazio que se colou nas entranhas e que me corrói qual parasita. Perdi-te e acabei tão perdido na minha dor, que já nem distingo o doce do salgado. Como para me manter vivo, mas apenas porque não me deixam morrer, nem os que me guardam religiosamente, nem o corpo que não me obedece, porque se o fizesse, desligaria cada artéria, veia e orgão, levando-me para onde certamente me esperas.
Soubesse eu o quão breve seria a viagem e nunca te teria perdido de vista. Tivesse eu uma bola de cristal para ver o que nem nos meus mais incríveis pesadelos alguma vez consegui e todos os segundos te teriam pertencido por inteiro, amando-te com a determinação dum homem apaixonado e fundindo-me no corpo que arrefeceu mais depressa do que a minha capacidade de te continuar a abraçar e a sentir. Conseguisse eu reverter os ponteiros do relógio que agora jaz parado, na parede para a qual deixei de olhar e repetiria, até perder o fôlego, que nasci apenas para te poder ter e que ficar sem ti me fez perder o sentido. Pudesse eu ter o poder de te fazer regressar e de bom grado trocaria de lugar, porque tu sim fazes falta, já eu, eu apenas permaneço...
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