Quanta diferença toleramos na nossa aparente semelhança?
Sou das que acredita, porque já vi o suficiente nas minhas 5 décadas de existência, que os opostos só se atraem na física, pessoas demasiado diferentes, com objectivos que não se cruzam e com vivências e experiências que chocam os outros, jamais poderão esperar o "para sempre", quando muito uns mesitos de respiração ofegante. Precisamos de falar a mesma língua, usando a mesma linguagem, porque usar gestos, de forma indefinida, apenas nos esgota e amassa cada expectativa.
A vida amorosa também comporta ciclos e os que chegam quando estamos a dar os primeiros passos, lá pelos vinte, permitem que se aguarde, procure, trabalhe os feitios e se aprenda sobre o outro, apreendendo qualidades e defeitos. No entanto, quando se chega à minha faixa etária, a formatação já se deu, a vida já nos levou, trouxe de volta e esbofeteou umas quantas vezes, assim sendo a margem de erro é minúscula, tal como o tempo que se encolhe a cada respirar. Nunca me atreveria a arriscar numa relação cujo parceiro fosse o meu completo oposto. Jamais me veria a ouvir palavras que não ressoassem com as minhas. O talvez deixou de fazer parte do meu vocabulário, agora ou é, ou é.
Onde se encaixam então as cedências?
Posso ceder o meu lado da cama, a melhor parte do bife e até metade do meu cobertor, mas não cedo para deixar de ser e de existir, passando a fingir que eventualmente talvez lá para a frente a coisa se dê e o desejável aconteça do nada. Não cedo em valores, em posturas, em respeito e em tolerância. Não me disponibilizo a acatar com hábitos que se mantêm apenas porque se descarta o novo. Não me identifico com quem não olha para o mundo com a intenção de o ver, mas tão somente para o criticar, avaliar e comparar. Não sou a metade de ninguém, continua inteira e determinada a esbarrar em quem já o seja.
Os opostos existem para que a diversidade se mantenha, mas tal como o sal jamais adoçará o açúcar, a noite também nunca substituirá o dia, a luz natural que nasce a cada acordar não é a mesma que a artificial que nos ilumina e mostra o caminho. As perspectivas até poderão mudar tudo, mas continuo determinada a chamar os bois pelos nomes, ao invés de me enganar, mesmo que com a melhor das intenções.
Não concordas com as minhas considerações? Pois, devem ser os opostos em rota de colisão.
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