Estou quieta e de sorriso em riste a ver-te respirar. O sono não chega quando te tenho ao meu lado e sinto o calor que o teu corpo emana, aquecendo-me o coração e incendiando-me o desejo que não tens forma de matar. É ritmado o movimento do peito onde tantas vezes me aninho e serena a face que conheço de cor. Estou quieta porque não te quero acordar e porque preciso de usufruir de todos os minutos que me reservas quando e sempre que vens. A tua mão esquerda repousa na minha almofada e a direita segura-te a cabeça de onde caem as mechas de cabelos que tantas vezes acaricio e cujo cheiro reconheceria num qualquer planeta distante. Não consigo fechar os olhos e arriscar adormecer, mas mal resisto à enorme tentação de te beijar até que te sugue todo o ar que também me pertence. O lençol deixa a descoberto as pernas torneadas e desprovidas dos pelos que eu mesma te ajudo a tirar. Estás sem a roupa que apenas serviria para nos roubar tempo, mas cheio de todo o amor que fizemos até sentirmos que nos bastava. Estou quieta há tanto tempo que me permiti pensar em tudo o que somos, quando nos reconhecemos, o que já tivemos e fomos capazes de dar. Não precisaste de demasiada determinação porque fui rápida a render-me. Quando te conheci deixei de ter vontade de desafiar o tempo, ao invés corri com ele e é isso que hoje estamos aqui. Quando te senti soube que regressara a casa e tudo o que passei a fazer foi por ti, enquanto fazias de mim a mulher que já sabe o que significa ser cuidada.
Estava quieta, mas acabaste de acordar e o teu abraço diz-me que já não o estarei por muito mais tempo.
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