Sempre que telefonavas e que o teu timbre se misturava no meu, passávamos a ser, outra vez, as pessoas que já se tiveram antes e que acreditavam jamais poder existir mundo que os separasse. Era nas nossas longas conversas que nos levantávamos, mostrando o verdadeiro poder que carregávamos e que movia o outro ao ponto de fazer parar ambos os ponteiros do relógio. Sempre que nos oferecíamos o tempo que precisávamos para nos restaurar do que afinal não dominávamos, crescíamos na vontade de nos termos para sempre e acreditávamos, sem qualquer atrevimento de dúvida, que seria mesmo assim. Sempre que as tuas palavras faziam eco nas minhas, percebia porque motivo esperara por ti durante o que me parecera uma eternidade. Lembrávamo-nos das nossas partes mais importantes, oferecendo-as ao outro como se de um presente divino se tratasse e respeitando a respiração que se tornava ora ofegante pelo crescente desejo, ou tranquilo por todas as certezas que fazíamos questão de fazer existir. Sempre que telefonavas, e ainda me recordo de cada começo de conversa, nada mais importava, nem sequer o alimento que mantinha o meu corpo vivo, porque passava a viver de ti e por ti.
Foi com cada chamada telefónica que te passei a conhecer por dentro, sabendo de todos os teus medos, segredos e sonhos ainda por concretizar. E foi em todos eles que soubeste o que verdadeiramente precisava de ti. Passámo-nos muito mais do que amor, mas esse perdeu-se, algures num telefonema mais duro e no qual desistimos ambos, cada um à sua maneira e velocidade, mas ainda assim a ditar o que parecia ter tudo para vingar.
Sempre que telefonavas o meu dia mudava de cor e a certeza de que a felicidade tinha um nome, o teu, firmava-se nas gargalhadas descontraídas e nos sussurros de quem precisava de muito mais do que estava a receber. Foi com uma chamada telefónica breve que iniciámos o que o tempo nos parecia ter roubado, mas foi num outro bem mais curto que te ouvi dizer que desistias de mim e doeu mais do que o meu coração parecia poder aguentar, no entanto aqui estou, viva e ainda mais forte, a tentar que apenas o melhor de cada telefonema permaneça, porque é apenas assim que escolho lembrar-me de ti.
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